A jornada dos opioides como analgésicos começou há milênios, com os egípcios descobrindo o poder das sementes de papoula no alívio da dor. Esse conhecimento ancestral marcou o início de uma busca incessante por substâncias capazes de controlar o sofrimento físico.
Com o tempo, o desenvolvimento de compostos como o éter e a morfina revolucionou a medicina, permitindo procedimentos cirúrgicos antes impensáveis. Porém, esse avanço trouxe um lado sombrio: durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), os casos de dependência de morfina explodiram entre soldados feridos, revelando pela primeira vez o potencial devastador do vício em opioides.
Hoje, esse mesmo problema persiste – em escala global. O que começou como uma solução medicinal transformou-se em uma crise de saúde pública, mostrando que, enquanto a dor é inevitável, o uso indiscriminado de opioides não pode ser a resposta.
A lição que a história nos ensina?
O alívio da dor exige equilíbrio: respeitar o poder dessas substâncias em casos agudos, mas buscar alternativas sustentáveis para o tratamento da dor crônica.
TRATAMENTO NÃO OPIOIDE DA DOR
A dor crônica é uma patologia altamente prevalente e uma das principais causas de incapacidade a nível mundial. A existência de cada vez mais doentes com pouca resposta à terapêutica farmacológica e o reconhecimento atual, através de novos modelos científicos, de que trata-se de uma doença multifatorial com diversas formas de apresentação, podendo tanto ser associada a alterações físicas como surgir sem alterações físicas objetiváveis vêem a reforçar a importância das intervenções não farmacológicas na gestão e tratamento da dor crônica.
O uso desgovernado da medicação analgésica pode causar muitos efeitos colaterais e até mesmo o vício. Os opióides, por exemplo, tem sua importância e precisam ser utilizados em casos específicos, a questão que vemos atualmente é o aumento do uso sem prescrição adequada ou automedicação, provocando uma epidemia de dependência medicamentosa e falha no controle da dor.
Os tratamentos farmacológicos incluem anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), relaxantes musculares e opióides. Embora os AINEs possam proporcionar alívio a curto prazo, o uso a longo prazo está associado a efeitos colaterais. Relaxantes musculares não são recomendados para dor crônica. Os opioides podem ser eficazes para dores intensas, mas apresentam risco de dependência e devem ser usados com cautela. Injeções nas articulações facetárias podem proporcionar alívio temporário para alguns pacientes. A cirurgia pode ser considerada quando há uma correlação clara entre anormalidades estruturais e sintomas. No entanto, a relação entre alterações degenerativas e dor é complexa e não totalmente compreendida.
Estudos epidemiológicos revelam ainda que uma grande percentagem dos doentes que sofre de dor Crônica reporta algum tipo de incapacidade, desde alterações do padrão do sono a interferência na capacidade para o trabalho.
O manejo da dor crônica frequentemente requer uma abordagem multidisciplinar. Intervenções não farmacológicas devem ser a primeira linha de tratamento. O acompanhamento regular por profissionais de saúde é crucial para o manejo ideal.
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Referências:
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Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos, editado por Andreas Kopf e Nilesh B. Patel. IASP, Seattle, ® 2010.
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